Limpeza
Dona Nair estava
realmente brava naquele momento, porém não era difícil entender o porquê de
toda sua irritação. Depois da “briga” entre mim e Lawrence, a loja se tornou
praticamente irreconhecível. Mesas caídas, terra espalhada pelos chãos, algumas
plantas arruinadas, era realmente uma tristeza...
Após longos minutos
de bronca, ela mandou que arrumássemos tudo antes que ela voltasse para me
levar até o chefe da vila. Nabel, como sempre gentil e preocupada, se ofereceu
para fazer meu trabalho também, mas é claro que eu não podia aceitar, seria a
mesma coisa de me aproveitar da garota que parecia não ter nenhuma maldade no
coração. Lawrence logo se levantou para ir embora, não sem antes me pedir
desculpas pelo mal entendido, porém antes que o garoto chegasse perto da porta,
Nair o puxou dizendo que ele deveria ajudar também, uma vez que ele era o
principal culpado do acontecido, Lawrence parecia pronto para reclamar, mas o
olhar de Nair provavelmente o intimidou e antes que ele pudesse sequer pensar
em uma saída, se viu aceitando a ordem.
Assim que Nair saiu
Lawrence se virou para mim e disse:
-
Sério, me desculpe por aquilo. Eu realmente achei que você fosse o
vilão.
-
Tudo bem. Você só estava tentando proteger Nabel e Nair. Isso é bom! –
eu dei um sorriso, e mesmo que não fosse sincero (era sincero), eu não gostaria
de ter Lawrence como inimigo.
-
Mas, Lawrence, você sempre foi ansioso e imprudente. Se continuar
assim você vai mesmo machucar alguém. Mesmo que não seja por querer! – Nabel se
aproximou de mim e com um sorriso gentil perguntou – Como estão suas costas?
-
Ah! Há há há. Estão ótimas! – menti. Estavam doendo um pouco por causa
do vaso que havia caído em cima de mim.
-
Mentiroso! Tire a blusa. – ela fechou a cara e eu estremeci.
-
Não, eu... – comecei a falar ciente da presença de Lawrence que nos
olhava de uma forma estranha.
-
Anda logo! – ela ordenou. Era a primeira vez que via Nabel daquele modo
imperativo e isso realmente me surpreendeu. Ela corou percebendo minha surpresa
e disse: - Se você não tirar, eu mesma tiro!
-
Gasp! O que... Isso é... Ridículo! – Lawrence fez uma careta, nervoso. Levantei
as mãos rápido já prevendo mais confusão e recuei.
-
Tá bom, eu tiro! – Disse rápido quando percebi que Nabel já
se aproximava de mim e Lawrence só fechava mais e mais a cara – Viu? Estou bem.
-
Não, você não está. O local está vermelho! Espera um pouco.
– ela disse e depois foi até a cozinha pegar uma compressa (ou eu acho que era
esse o nome) para colocar nas minhas costas. Lawrence estava de costas para nós
e sua nuca parecia um pouco vermelha. - Pronto. Terminei!
-
Obrigado. Vamos trabalhar? – falei desviando meu olhar dos dois e
corando um pouco.
-
Sim. Aqui estão os instrumentos. – Nabel buscou as coisas que
utilizaríamos na limpeza e fiz uma careta rápida quando os vi.
-
Hãn? O que é isso? – perguntei apontando para um cabo com
pelinhos na ponta.
-
Ah? Uma vassoura. – Lawrence me olhou assustado e surpreso.
-
Vassoura? Ehr? Como se usa isso? – Perguntei e Nabel me olhou estranha
também.
-
É só varrer. – ela se aproximou de mim e me perguntou – Não se
lembra?
-
Não... – neguei curioso.
Nabel se aproximou e pegou a vassoura das minhas mãos me ensinando o que
eu tinha que fazer com ela, porém quando tentei acabei quebrando mais uns três
vasos de plantas, então eles me trocaram de função, mas acabou que em todas
elas eu acabava me atrapalhando e piorando a situação da loja. No fim, Lawrence
se irritou e me chamando de inútil falou para eu me sentar e não tocar em nada.
Olhei suplicante para Nabel, mas ela só desviou o olhar concordando com
Lawrence.
-
Desculpe! – murmurei me sentindo culpado em estar sentado enquanto eles
trabalhavam.
-
Ah. Não se importe! – Nabel sorriu gentil como sempre.
-
SE IMPORTE! Maldito, agora tenho que fazer seu trabalho também.
– Lawrence disse.
-
Bem... Se você quiser eu posso tentar de novo e... – comecei a falar,
mas ele logo me interrompeu.
-
Olha cara, é melhor você continuar sentado aí, porque inútil do jeito
que você é você só iria piorar as coisas e nós só sairíamos daqui apenas depois
de meses.
-
Law! – Nabel o repreendeu brava
-
Desculpa! – ele levantou as mãos em rendição e murmurou – mas é verdade!
Quando estava tudo arrumado, Nair chegou e nos chamou. Disse que Nabel
tinha que ficar na loja e mesmo com todas as reclamações, ela ficou. Nair
obrigou Lawrence a ir conosco.
Eu estava hiper ansioso para colocar os meus pés para fora daquela loja
pela primeira vez e ver, finalmente depois de tanto tempo, a vila aonde eu me
encontrava, o céu, as pessoas e tudo mais.
Quando sai a primeira coisa que reparei foi no céu e depois, notei com
certa surpresa, que a vila era realmente bonita e ia além das minhas expectativas.
O ar fresco... Respirei fundo o sentindo entrar em meus pulmões e acaricia-los.
O lugar era realmente animado e vivo. Crianças corriam, plantas eram
cultivadas, as casas simples e arrumadas.
-
Oh! Nossa. – soltei – Incrível.
-
Não é? – Dona Nair segurou no meu braço.
-
Sim.
-
Quando Cain chegou? – Lawrence perguntou desconfiado – Não fiquei
sabendo sobre a chegada dele.
-
Há algumas semanas, mas não tivemos tempo de apresentá-lo a
ninguém porque estávamos ocupados com pequenos serviços. – Nair sorriu tentando
desfazer as suspeitas do garoto.
-
Ah... – Lawrence sorriu – De onde você é Cain?
-
Eu... Eu sou da vila Okalip. – Falei me lembrando do nome que Nair tinha
me falado que eu deveria dizer caso alguém perguntasse sobre o local de onde eu
tinha vindo. Supostamente, Nair tinha alguns parentes lá e se eu falasse que
era dessa vila ninguém iria desconfiar.
-
Estamos quase lá. – Nair mudou de assunto mostrando uma casa modesta,
mas bem mais arrumada do que as outras. – Ali é o escritório do líder.
-
Ah. – murmurei. Agora me sentia um pouco nervoso.
Que tipo de pessoa seria o chefe? Será que ele me rejeitaria?
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