Capítulo 2




Ingressando em uma nova vida
 


Passaram-se apenas uns cinco ou dez minutos desde que Nabel saiu para buscar a tal Dona Nair, mas para mim parecia simplesmente uma eternidade.
Eu ainda estava sentado na cama quando Nabel entrou no quarto, seguida de perto por uma senhora que devia ter entre seus 70 e 80 anos. A senhora olhou para mim e me lançou um sorriso enorme e muito caloroso, o que me acalmou um pouco.
-          Ora, ora. Então você acordou? Demorou um pouco, não acha? – ela falou.
-          Hãn? Como assim? – falei surpreso. Eu tinha ficado pensando tanto tempo em como eu havia chegado naquela situação e em como recuperaria a memória que acabei me esquecendo de saber do mais importante: quanto tempo havia se passado desde que fui encontrado. – Se importaria em me dizer... Quanto... Quanto tempo eu dormi?
-          Você já está dormindo há 3 dias direto, desde que nós te encontramos! - Nabel respondeu parecendo entretida com todas as minhas reações.
-          Ah! Nossa... Isso é muito tempo... – Coloquei a mão na minha cabeça.
-          É melhor você se deitar, querido! – Dona Nair se aproximou e sentou na minha cama. Assenti e me deitei.
-          Não é estranho você ter dormido por tanto tempo. Não sei se Nabel te contou, mas além de seus machucados, você foi envenenado. – Dona Nair falou e vendo minha expressão confusa continuou - Não é um veneno forte o suficiente para matar a pessoa na hora, ou algo do tipo. É mais um veneno que te deixa tonto e alucinando por algum tempo. Costuma ser utilizado principalmente por lutadores ou guerreiros em seus adversários antes de uma batalha de risco! Lembra-se de algo relacionado com alguma luta na qual você participou ou uma briga?
-          Não me lembro de nada. Nem sei meu nome... – falei baixo e encarei o teto acima de mim. Pisquei algumas vezes e em disparada comecei a perguntar - Como assim envenenado? Quer dizer, se eu fui envenenado alguém devia estar com raiva de mim ou tinha motivos para me matar, então por quê? O que eu poderia ter feito para ela? Não havia pistas?
Se acalme, filho. Ficar nervoso agora, só ia piorar as coisas. Tente ficar tranqüilo - Dona Nair disse e depois, sorrindo, acrescentou – Além disso, eu não sou uma adivinha, sou só uma curandeira. Agora vamos ver seus ferimentos. - Nair se aproximou de mim e começou a me examinar. Depois suspirou e se afastou.
-          E então? E então? - Nabel repetiu insistente quase dando pulinhos.
-          Seus ferimentos foram graves, mas você já está bem o bastante para não correr risco de vida. Dentro de uma ou duas semanas você já estará melhor, mas quanto a sua memória, eu creio que não poderei fazer nada. Sinto muito.
-          Entendo... Isso quer dizer que nunca mais vou me lembrar quem sou eu de verdade, ou quem é minha família? Nem mesmo porque tentaram me matar? - falei quase em um sussurro.
-          Não necessariamente! Pode ser que sua memória volte com o tempo. Mas isso ocorrerá conforme a natureza queira.
-          E o que eu farei até lá? – resmunguei desanimado, mas com um pouco de esperança.
-          Por enquanto, você ficará aos meus cuidados e aos de Nabel. Pelo menos até que esteja recuperado. - A senhora sorriu - Isso é uma ordem!
-          Sim! - Nabel comemorou. Por algum motivo meu coração ficou quente e apertado, sem perceber me vi aceitando e sorrindo pela primeira vez desde que acordei falei - Mas... Não acho que seja bom que eu fique descansando enquanto vocês duas trabalham por mim. Deve haver algo que eu possa fazer, mesmo neste estado!
-          Não é necessário, meu jovem. No seu estado atual você não conseguiria fazer absolutamente nada. Além disso, mesmo que você fique, terá que ficar somente nesse quarto, pois a aldeia não está passando por bons momentos e qualquer um é considerado suspeito. É verdade que o momento é de trégua e a aldeia faz suas atividades normalmente com tranqüilidade, mas mesmo assim não queremos correr o risco, certo? – ela disse me fazendo ainda mais confuso, mas a única pergunta que veio a minha casa foi:
-          Então, serei como um prisioneiro querendo ou não? - disse um pouco nervoso
-          Bem, por pouco tempo. Pelo menos até que encontre uma solução melhor para seu caso - Disse Dona Nair - Bem. Eu tenho que voltar para meu negócio. Os clientes não esperam! Nabel cuidará de você, portanto converse com ela.
-          Sim! - Nabel e eu dissemos ao mesmo tempo e rimos com a coincidência.
Dona Nair riu também e se retirou deixando-nos a sós. O clima estava um pouco pesado uma vez que não tínhamos o que falar e resolvi quebrar o silêncio.
-          Eu já te agradeci por ter me ajudado? – perguntei olhando para ela de soslaio
-          Hein? Não... Mas, não é necessário! Sério... - ela falou tímida, enquanto suas bochechas já adquiriam um tom avermelhado.
-          Boba! É claro que é. Obrigado. - eu disse fazendo-a corar ainda mais. Passei a mão em meus cabelos ficando um pouco envergonhado também. Ela era tão pequena que até parecia uma criança. Balancei a cabeça para me livrar desses pensamentos e para mudar de assunto perguntei: - Se importa de me contar qual o conflito que essa aldeia está enfrentando?
-          Ah! Não, não. O que quer saber?
-          Tudo. Uma vez que eu não me lembro de nada.
-          OK. Então vou desde o começo! – ela falou e me esperou assentir para continuar - A aldeia faz parte do reino de Lycan juntamente com suas 12 irmãs. As 12 irmãs são a denominação dada para as outras 12 aldeias que em conjunto com a nossa formam o reino, que por sua vez é governado pela realeza. Recentemente começaram a surgir intrigas entre essas aldeias. Não sabemos a razão ao certo. Talvez por egoísmo, ciúmes ou pura vaidade. Isso provavelmente foi acarretado por más pessoas que querem derrubar o nosso reino que um dia já foi tão unido.
-          E estão conseguindo?
-          Infelizmente sim. Além disso, há boatos de que existe um grupo da realeza que quer matar o rei atual e seus descendentes e tomar o poder, o que piora a situação uma vez que não podemos contar com nossos governantes, já que eles têm que cuidar de seus próprios problemas também. – Nabel suspirou antes de continuar - A vila Houaiss que estava tentando não se envolver na briga, acabou sendo atacada há duas semanas por nossas antigas aliadas: A vila Jumond e a vila Cristinia. Agora nossa única aliada tem sido a vila Freud que também não quer se envolver nisso. Felizmente, conseguimos uma trégua de um mês com elas, o que nos ajudará a ganhar tempo, porém mesmo assim, a aldeia já não confia em forasteiros e nem mesmo em Freud que ainda é nossa aliada e irmã mais próxima! Por isso deve ser difícil ingressar aqui nessa vila por enquanto. MAS, CONFIE NA MESTRA NAIR, ELA SEMPRE TEM UMA SOLUÇÃO. - Nabel disse se levantando de sua cadeira e com as mãos apertadas no peito ficou me olhando como se assim ela fosse me fazer acreditar no que ela dizia. Já me sentia mais calmo e realmente era engraçado ver Nabel corando ou tentando me fazer acreditar nela.
Bem, eu não tinha nada para fazer no momento, e mesmo se tivesse, não poderia, então resolvi seguir suas orientações. Rindo disse:
-          Confiarei.     

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