O sobrinho de Nair
Já havia se passado uma semana desde que eu havia
acordado naquele lugar e conhecera Nabel e Dona Nair. Agora já estava quase
totalmente curado e me sentia mil vezes melhor, mas não o bastante para outra
doze de dor ou lutas...
Ainda não sabia o que havia acontecido ou como eu
havia me ferido. Minhas memórias não haviam voltado e nem mesmo me lembrava do
meu nome.
Os meus dias se passavam lentos e calmos,
limitados apenas a aquele pequeno quarto, onde eu estava acomodado, e o pequeno
banheiro, que também era dentro do quarto.
Como sempre as cortinas ficavam fechadas para
que ninguém de fora pudesse ver, ouvir ou saber que eu estava por ali, já que eu
poderia ser considerado "PERIGOSO" e acabar sendo condenado por não
confiarem o bastante em mim. No primeiro momento que Nabel me falou isso eu dei
um ataque de risadas, mas entendendo a situação aceitei os termos, até porque
no meu estado atual eu não poderia lutar ou fugir de alguém e muito menos de
uma vila inteira.
Ás vezes
me pegava rindo sozinho no escuro enquanto tentava me lembrar das coisas ou do
que eu sabia fazer ou havia aprendido, mas em determinado momento parei de
tentar. As lembranças voltariam com o tempo como Nair havia dito ou assim eu
esperava.
Se eu podia cozinhar? Não. Lutar? Não. Limpar?
Não. Cavalgar? Não. No momento eu era um completo inútil.
Havia apenas uma coisa da qual eu não parecia
ter dificuldade de fazer: Ler. Eu descobrira isso quando Nabel levara um livro
para o quarto e eu o pedi emprestado. Isso era bom, já que assim eu podia fazer
outra coisa que não fosse dormir, comer, usar o banheiro ou conversar com Nabel
e Nair em seus tempos livres.
Agora que pensava mais nisso, na última semana
eu tinha criado uma grande afeição pelas duas. Quem sabe por elas serem as
únicas com quem eu tinha contato ou mesmo por serem as únicas em quem eu
poderia conversar e confiar, uma vez que eram minhas únicas conhecidas. Talvez
pudesse ser até mesmo por mera gratidão... Mas não parecia ser somente isso.
Dona Nair era gentil, inteligente e perceptiva,
eu já havia aprendido a escutar seus conselhos, ela sabia o que fazia. Além
disso, ela cozinhava muito bem e seu senso de humor era ótimo. Uma ótima amiga
com certeza.
Nabel havia me cativado um pouco mais. No começo
ela era meio tímida, mas com o tempo foi se soltando mais. Ela corava
facilmente e adorava contar histórias suas, de Nair e dos visitantes do pequeno
restaurante e casa de ervas e remédios que elas guiavam. Eu adorava passar o tempo
com ela. Ela ria facilmente e era muito gentil, o que a tornava cada vez mais
fofa, isso dificultava as coisas para mim ás vezes, pois tinha que me segurar
para não abraçá-la ou confortá-la colocando a mão em sua cabeça como Dona Nair
ás vezes fazia. Doía lembrar que apesar de tudo eu ainda não tinha intimidade
bastante para fazer essas coisas com elas e muito menos sabia como começar essa
relação. Pensando um pouco sobre isso, percebi que Nabel era como uma irmã mais
nova para mim, a quem eu deveria cuidar e proteger, já Dona Nair tinha um jeito
preocupado que lembrava muito a maneira que uma mãe costumava agir e isso me cativava
bastante também.
-
Você lembra seu nome? - Nabel havia me
perguntado na noite anterior curiosa, mas contida em sua timidez.
-
Não. Porque pergunta? – sorri tentando fazê-la
relaxar um pouco
-
Eu... Só não sei como te chamar... Isso é
realmente irritante!
-
Hãn... Isso me parece um problema certo? - Sorri
vendo sua expressão arrependida por ter perguntado, ela assentiu e eu
continuei: - Então porque você não me dá um nome?
-
O QUE? Sério? - ela quase pulou da cadeira.
-
Sim. Eu preciso de um, néh?
-
Ahhh! SIM! Mas... Eu preciso de um tempo. Até
amanhã de manhã! Pode me esperar? – Ela praticamente pulou da cadeira em que
estava sentada e me olhou de um jeito sério.
-
Claro! - sorri com afeto, ainda surpreso por sua
reação engraçada.
-
Então estou indo! - ela pulou para a porta rapidamente
e saiu correndo.
Agora já era manhã e eu esperava ansiosamente
por ela e meu novo nome.
-
Posso entrar? - ela perguntou do lado de fora da
porta. Eu já a conhecia bastante para saber que apesar de estar tentando ser
educada e contida, por dentro ela deveria estar enfrentando um turbilhão de
sentimentos de tão animada que estava.
-
Claro. – falei sorrindo ao ver a loirinha entrar
no quarto com urgência.
-
Olá. Como foi sua noite? - ela sorriu corada
ainda tentando ser educada.
-
Bem. Você não tem nada para me contar? – lhe
lancei um sorriso mesclado com malicia e curiosidade.
-
Eh! Curioso! - ela deu um pequeno rodopio -
Mas... E se eu disser que eu não encontrei nenhum nome?
-
Aí eu serei obrigado a te castigar! - ri mais um
pouco fazendo sinais com as mãos e indicando que faria cócegas nela.
-
Oh não, Cain,
não seja tão maldoso! - ela fingiu preocupação dando ênfase a Cain.
-
Cain? Quem é esse? – me fiz de desentendido e
quando ela fechou a cara completei - Esse é meu novo nome?
-
Ah não... Você... Não gostou? - ela perguntou séria,
de repente, colocando a mão no coração.
-
Sua boba! É perfeito. CAIN. Eu sou Cain. - ri
repetindo o nome para gravá-lo e ela riu repetindo também.
-
Estou entrando! - a voz de Nair veio do corredor
- Vejo que estão se divertindo muito por aqui.
-
Sim. Nabel me deu um nome: Agora eu me chamo
Cain.
-
Ora ora! - Dona Nair riu - Muito bem, Cain. Vejo
que você já está muito melhor! Então que tal irmos logo aos negócios?
-
Hãn? – perguntei desentendido.
-
Você já está curado e, além disso, não poderá
ficar nesse quarto isolado para sempre!
-
Ah! Sim... - disse pensativo. Ela iria me
expulsar agora que eu estava recuperado? Certo desânimo inesperado caiu sobre
mim me surpreendendo. Não era aquilo que eu queria? Me ver livre de novo e
procurar minha família? Estava claro que eu não poderia ficar ali para sempre,
apenas comendo e dormindo e uma hora ou outra eu teria que sair, porém não
esperava que fosse tão cedo.
-
Mas, senhora, ele não tem para onde ir! - Nabel
começou a dizer suas preocupações percebendo meu estado, mas foi interrompida
pelo sorriso reconfortante de Dona Nair.
-
Eu imaginei e por isso vim lhe propor que fique
conosco até se lembrar de tudo. É claro que ajudando em nossas tarefas quando
precisarmos!
-
Ahhhh! - Nabel e eu nos entreolhamos felizes.
-
Vocês dois são mesmo como duas crianças, não
são? - Nair riu mais - Mas do jeito que a vila está eles não aceitariam
qualquer um andando pela vila e provavelmente te executariam logo na primeira
vez, por isso eu pensei em um modo de te adaptar aqui! Primeiro arrumaremos sua
aparência. - eu vi um brilho em seus olhos que me deu agonia e me fez
estremecer. - E depois te apresentarei como meu sobrinho!
-
Ótima ideia, minha senhora! - Nabel deu pulinhos
de alegria.
-
Mas, o que você quis dizer com mudar minha
aparência? Eu já estou ótimo assim, néh?
-
Não de acordo com nossa aldeia! Encare isso como
algo para a nossa própria diversão... Um preço que você terá que pagar - ela
disse a última frase com um tom de voz mais baixo e eu me encolhi – Anda logo!
Seja homem.
Nabel riu mais alto concordando.
-
Primeiro um banho! Tome rápido antes que nós
tenhamos que entrar aí dentro. - elas me empurraram para fora do quarto pela
primeira e me guiaram até um banheiro maior. - Pode usar está toalha!
Fiz o que elas falaram e tomei um banho rejuvenescedor.
Talvez a ideia de mudar um pouco a aparência não fosse tão ruim assim. Olhei
minha imagem no espelho e me assustei. Não me lembrava de ser daquele jeito.
Meus cabelos eram longos e batiam quase na minha bunda. Eles eram pretos e
tinham reflexos quando as luzes batiam nele. Lisos e macios. Meus olhos eram
Azuis esverdeados, mas o verde era mais presente e forte de forma que se podia
dizer que eram verdes bem escuros. O azul era imperceptível, apenas com uma
forte luz poderíamos percebê-lo. Eu também tinha uma estrutura magra, mas
parecia forte. Os músculos estavam bem definidos no espelho, mas não sabia se
isso queria dizer alguma coisa importante.
Nair bateu na porta e me entregou roupas para
que eu vestisse. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e vesti minhas roupas.
Quando sai Nabel e Nair me examinaram e negando com a cabeça me empurraram para
o banheiro me entregando outra roupa. Depois de repetirem o ato pelo menos 10
vezes, elas finalmente aceitaram uma roupa. Era uma blusa branca com um tecido
fino e fresco com manga comprida em baixo, uma coisa vermelha (estilo uma
gravata), um casaco preto mais grosso que a blusa por cima e uma calça entre
preto e marrom. Além, claro, do sapato extremamente confortável, também preto.
-
Está bom! Muito bom! - Disse Nabel
-
Mas... Falta algo. - Disse dona Nair - Já sei. É
o cabelo!
-
O que? Não. Meu cabelo... Você quer...
-
Cortá-lo! - sorriu Nair. Meus músculos se
enrijeceram, mas antes que eu dissesse algo ou pudesse fugir, Nabel e Nair me
seguraram firmemente e me levaram para uma cadeira. Suspirei. Não poderia de
jeito nenhum machucá-las, então não resisti. Nabel me segurou e Nair cortou.
Senti as mechas caindo no chão e suspirei novamente. Por volta de 30 minutos
depois, elas me soltaram e analisaram.
-
Perfeito! - As duas se olharam satisfeitas.
Olhei-me no espelho e me assustei com a
diferença. Meu cabelo estava agora cortado de uma forma que o deixava um pouco acima
dos meus ombros, mas por incrível que pareça eu havia gostado. Sorri.
muito bom mas to morrendo pra esperar o próximo capítulo!!!
ResponderExcluirquando vai colocar o 4 ? ^^
Obrigada por comentar. Eu fiquei MUITO feliz! Costumo postar nos finais de semana, ok? Amanhã colocarei o sexto e no próximo fim de semana o sétimo. Espero que goste!
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