Capítulo 4




Primeiro sonho
 



Depois de toda aquela produção em que fui submetido a fazer por Nabel e Nair, descobrimos que havia ficado muito tarde para que pudéssemos ir até o chefe da aldeia para que eu pudesse me apresentar formalmente e ver se eu era aceito na vila, então resolvemos esperar até o dia seguinte.
 Nabel havia insistido para que eu fosse para um quarto maior e mais confortável, mas de alguma maneira eu me apegara ao meu pequeno quarto. Não era por menos, uma vez que eu havia passado pouco mais de uma semana vivendo somente dentro dele.
Ainda não me sentia bem em pensar que Nabel e Nair teriam que fazer tudo por mim, mesmo que elas continuassem dizendo que estavam bem e que elas não precisavam da minha ajuda, eu acreditava que precisava compensá-las ou pelo menos ajudá-las de alguma forma, então após muita discussão e debate com elas ficou decidido que em troca de me deixarem ficar com elas, eu ajudaria no que fosse necessário com a loja.  Então, vendo que eu não mudaria de ideia, durante a noite elas foram me ensinar como as coisas funcionavam, mas tudo aquilo era estranho e, a cada segundo, eu me atrapalhava todo, fazendo com que Nair franzisse a testa e Nabel risse mais do que qualquer um, me deixando mais que envergonhado.
De qualquer forma, a noite foi muito divertida e passou muito rápido, portanto quando dei por mim todos estavam indo para a cama. Sem ter alternativas, voltei para o meu quarto e me deitei.
Estava mais que ansioso para o dia seguinte, além disso, o que aconteceria se não me aceitassem? Eu morreria, seria preso ou o que? Esses pensamentos me fizeram estremecer. Apesar de não estar com sono, tentei ao máximo relaxar e após um longo tempo, finalmente adormeci e pela primeira vez desde que eu havia chegado na vila, eu sonhei.
Eu estava em um belo jardim com a grama verde e um lindo riacho. Tentava pegar um peixe com as mãos mesmo, porém sempre que tentava acabava errando o alvo. Na quarta tentativa eu consegui, mas ele se mexia tanto que não fui capaz de segurá-lo. O riso de uma garotinha de uns sete anos veio de trás como sininhos e por alguma razão me senti bem.
-          Fracote! Nem um peixe consegue pegar mesmo! – ela dizia convencida.
-          Rum! Não me chame de fracote! Aposto que você não consegue também, idiota. – minha voz circulou o ambiente e eu percebi que também era mais ou menos de sua idade. – Afinal você é uma garota! – eu disse dando a língua para ela e rindo.
-          Puxa! Você nunca aprende mesmo. Pois bem, vou te mostrar! – ela disse entrando no riacho e molhando a borda de seu vestido. – Olhe com atenção, fra-co-te!
Ela olhou para a água e em apenas uma tentativa, pegou o peixe com a mão.
-          Viu? – ela riu irônica.
-          Droga. Porque você sempre é assim? – perguntei com uma careta.
-          Incrível! Incrível! – a voz de outra criança surgiu de repente. Batia palmas com suas pequenas mãozinhas de cinco anos de idade, enquanto dava leves pulinhos. – Irmão, ela ganhou de novo!
-          Até você me dizendo isso, Marcos? – perguntei fingindo decepção e suspirando.
-          Ah. Desculpe... – ele abaixou as mãozinhas e sorri ao perceber que ele estava envergonhado.
-          Não se preocupe Marcus, seu irmão só está chateado por descobrir que é mesmo um fracote! – a garota disse e nesse exato momento o peixe balançou bruscamente fazendo-a soltar um gritinho agudo e cair no riacho se molhando toda. O peixe, por sua vez, aproveitou a distração para sair das mãos dela e voltar para a natureza.
-          Kkkk. Idiota! – eu me aproximei gargalhando e estiquei a mão para ajudá-la a se levantar.
-          Ei! Não ria... – ela ordenou brava, enquanto se levantava sem pegar minha mão. Não dei ouvidos a ela e continuei a rir. Ela olhou para o vestido todo molhado e começou a rir também. Logo Marcus, mesmo sem entender o motivo do riso, se juntou a nós.
-          Cain? Cain? Está acordado? – a voz surgiu da porta do quarto que ainda estava fechada, me despertando.
-           Nabel? – eu pisquei – Estou acordado!
-             Ótimo! Coloque suas roupas e venha para loja. Nair está te esperando. Eu vou na frente. - ela sorriu e foi embora após a minha confirmação sem nem mesmo abrir a porta.
-              Claro! – levantei-me e dei um suspiro, mas logo sorri com a lembrança do sonho. Vesti minhas roupas e, após passar no banheiro, comecei a me encaminhar para a loja.

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