Ataque
surpresa!
Logo que cheguei à loja, Nabel já veio para meu lado
sorrindo e Dona Nair me saudou fazendo um movimento para que eu me aproximasse.
Então me aproximei, olhando ao redor. Nunca estivera
naquele recinto enquanto ainda era dia e agora que estava, percebia como a
pintura antiga era bonita em seus tons de vermelho desbotado, madeira e verde.
E como o ambiente parecia mais alegre com as plantas de Nair. As mesas eram organizadas
por Nabel, que eu garanto, tinha uma criatividade e tanto. Os forros de cada
mesa eram bordados pelas próprias mãos das duas mulheres, ambas excelentes
costureiras. Sentei-me em uma cadeira do balcão amadeirado. Nair aproximou um
prato com comida e um copo de leite com açúcar de mim.
-
Coma querido. Você vai precisar hoje! – ela
sorriu e sem esperar outra ordem meti uma boa mordida no pão que estava no
prato.
-
Hummmm! Tão bom. – Deixei escapar minha pequena
comemoração por estar comendo algo tão delicioso, sem nem perceber. As duas
riram felizes e eu corei com a ação.
Continuei a comer, enquanto Nabel ia regar as
plantas cantarolando e Nair arrumava algo na cozinha que ficava atrás do
balcão. Comida para os clientes talvez?
-
Cain... Quando terminar pode ir lá dentro, na
sala de jantar, e pegar um daqueles garfos grandes pontudos, por favor? – Dona
Nair falou com delicadeza.
-
Ah! Dona Nair, deixa que eu faço isso! – Nabel
começou a largar o regador para ir pegar quando me adiantei e disse:
-
Está tudo bem Nabel. Já terminei! Deixa comigo.
– olhei para ela e vendo seu olhar de decepção acrescentei rápido: - Obrigado
por se preocupar, mas estou bem. Sério!
-
Tá! – ela abriu aquele grande sorriso inocente que
pertencia somente a ela e voltou a regar as plantas. Levantei-me e segui para a
sala de jantar, saindo do recinto onde estava antes.
Peguei o garfo e estava quase entrando de novo na loja
quando o sino da porta da entrada que avisava sobre um novo cliente tocou.
Parei no corredor sem saber exatamente o que fazer, será que eu deveria entrar
ou devia esperar? Suspirei sem saber o que fazer e resolvi espiar pela fresta da
porta.
-
Eu deveria estar fazendo isso? – resmunguei
baixo
Um garoto que devia ter 17 ou 18 anos entrou pela
porta. Ele era alto, tinha muitos músculos, cabelos pretos, na altura do ombro,
amarrados em um rabo de cavalo alinhado e... (eu não diria bonito nem aqui nem
na china, mas uma menina com certeza diria – pensei corando)... E tinha olhos
em um tom de azul discreto e intenso. Usava uma roupa preta com um cachecol
branco e tinha uma espada na bainha.
-
Oh, Lawrence, bem vindo! – Dona Nair disse
saindo da cozinha um instante.
-
Lawrence!
– Nabel sorriu tímida. Ela parecia extremamente confortável com a presença
dele, o que me surpreendeu um pouco.
-
Bom dia Dona Nair... E... – ele corou
rapidamente e passou a mão pelos cabelos – Nabel, oi!
-
O que o traz aqui? – Nair perguntou
-
Ah! Só o de
sempre... Você poderia me vender um pouco de hortelã e citronela? E uma xícara
de café também, por favor! – Ele disse voltando ao normal, ou o que eu achava
que deveria ser o estado normal do garoto.
-
Claro! Espere apenas um momento. – Nair voltou
para a cozinha. – Serão 20 reais ok?
-
Ah, claro! – ele disse. Nabel caminhou para o
lado dele e percebi que ele ficou um pouco vermelho, mas logo relaxou.
-
O que? – sussurrei confuso com sua reação. Era
imaginação minha ou ele corava toda vez que Nabel fazia algum movimento ou
falava com ele?
-
E o
treino para os novos guerreiros da aldeia, como vai? – Nabel olhava a espada do
menino com curiosidade.
-
Vai bem. Tenho melhorado nessa coisa, sabe... de
guerreiro!
-
Você já tem idéia de que cargo quer ocupar? –
Nabel disse animada e ele sorriu um pouco parecendo pensar no assunto.
-
Bem, eu não sei, mas talvez eu me torne da
patrulha, já que não pretendo sair do vilarejo!
-
Oh! É um bom cargo e... – Nabel começou a falar
com sua animação habitual, mas sem perceber eu me inclinara demais para frente com
a intenção de ver melhor a cena e não vi que a porta estava só encostada e ela
abriu... Acredito que você já saiba o que aconteceu:
-
Ahhhh! – Gritei
enquanto caia. Levantei-me rápido agarrando o enorme garfo, que quase tinha se
sujado, quando cai. – Ops!
-
O
q...que? – O garoto, que Nair chamará de Lawrence, começou surpreso.
-
Hãn... Desculpe, eu não... – Comecei tentando me
explicar, mas ele me interrompeu.
-
Nabel,
para trás, ele pode ser perigoso! – ele gritou ficando na frente de Nabel –
Nair, não saia daí!
-
O que
está havendo? – Nair gritou da cozinha sem se importar muito.
-
Eu só
estava... Desculpe-me! – levantei o braço em um movimento rápido para mostrar
que eu estava me desculpando, mas sem perceber levantei o garfo também!
-
Ele está
nos ameaçando com aquele garfo gigante. Ahhh! Não se preocupe Nabel, eu te
protejo! – ele arrancou a espada da bainha e correu para cima de mim antes que
Nabel pudesse impedi-lo.
-
O que? –
Berrei surpreso, enquanto desviava de uma investida rápida dele. A espada veio
furiosa para cima de mim e rapidamente usei o garfo para me defender, eu estava
achando a situação muito irônica.
-
Dona Nair... Ajude! – Nabel chamava e logo
depois começou a implorar – Lawrence pare, pare!
As palavras não chegavam aos ouvidos do guerreiro que
só pensava em proteger “as mulheres” do “inimigo”.
Desviei correndo de novo. O cara era louco ou o que?
-
Cain! - Nabel começou a correr em minha direção,
mas parou com os olhos arregalados quando percebeu que um monte de talheres
voava em minha direção, mas por um erro de cálculo voltaram indo na direção de
Nabel e atingindo um vaso em cima de sua cabeça. Sem pensar, corri até ela e
pulei em cima dela bem na hora que o vaso despencou. Ele caiu sobre minhas
costas e eu resmunguei algo incompreensível até mesmo para mim.
-
Nabel! Ele está tentando te matar... Não! – o
guerreiro se aproximou e me puxou jogando-me na parede do balcão. – Nunca
te perdoarei por tentar machuca-lá, seu verme!
Ele se aproximou correndo empunhando a espada super
afiada. Olhei para minha mão percebendo que o garfo ainda estava lá. Eu era o
que? Um idiota? Porque não soltara aquele garfo até agora? Não era a toa que o
guerreiro estava tendo idéias erradas! Joguei-o longe e levantei os braços
vendo a espada parar certeira perto do meu nariz.
Nabel correu e agarrou o braço de Lawrence.
-
Lawrence, não! – ela choramingou.
-
Nabel, o
que... – ele pareceu chocado percebendo a pequena somente agora.
-
O QUE ESTÁ HAVENDO AQUI? – Nabel berrou entrando
em cena com um tom autoritário e começou a nos dar uma bronca – Lawrence, o que
é isso? O que pensa estar fazendo com essa espada! Deixe Cain ir! Cain, o que
pensa estar aprontando? Só te pedi um garfo grande e você me apronta essa? Olha
só a bagunça que vocês fizeram aqui! E você Nabel, que vergonha! Não foi para
isso que estou te treinando, você tem que aprender a resolver situações assim.
Lawrence pareceu assustado, assim como eu e Nabel.
-
Desculpa dona Nair. Vou arrumar tudo. – eu disse
tímido.
-
É melhor mesmo garoto! E você Lawrence o que faz
com essa espada desse jeito? Guarde-a já! No meu estabelecimento não!
-
Opa! Sim senhora! – Lawrence se arrumou
rapidamente confuso e Nabel se aproximou de mim me analisando.
-
Cain... – ela choramingava.
-
Estou bem, querida, estou bem! Calma. – Passei a
mão nos seus cabelos, Lawrence olhava sem entender nada, por um momento pensei
ter visto raiava em suas feições.
-
O que exatamente está havendo aqui e quem é este
estranho? – Lawrence perguntou com uma expressão tão confusa que em outras
situações me levaria a rir desesperadamente sem parar.
Eu acho que o Lawrence e a Nabel são tão fofos! ;) Eheh...
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